A dificuldade de chegar ao orgasmo nas relações sexuais pode estar ligado a doença anorgasmia. A terapia sexual auxilia no tratamento
“Gosto de fazer sexo, mas nunca tive orgasmo durante a relação sexual. Isso deixa o meu parceiro inseguro, pois ele acha que não gosto de transar com ele. Me sinto triste e incapaz por causa disso”
Escuto relatos como esse com frequência no consultório. Muitas mulheres não conseguem chegar ao orgasmo no sexo. Através da Terapia Sexual, é possível superar essa dificuldade e chegar lá sozinha e acompanhada.
Sentir orgasmo é o desfecho esperado da resposta sexual: formada por desejo, excitação e orgasmo. Essas fases se retroalimentam. Se falta desejo, possivelmente as outras fases ficam prejudicadas. Da mesma forma, se a pessoa nunca ou quase nunca chega lá é possível que com o tempo ela tenha dificuldade também com desejo e excitação.
O orgasmo não deve ser o foco ou o objetivo da relação sexual. É possível ter um bom encontro sexual sem ele. Buscá-lo de forma direta e restrita pode trazer ansiedade e frustração. Entretanto, também não é saudável normalizar a falta frequente dessa resposta, pois ela provavelmente tem causas e consequências.
O que é o Transtorno do Orgasmo Feminino?
Também conhecido como anorgasmia, pode ser definido como uma inibição recorrente e persistente, após uma fase de excitação sexual adequada, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. A inibição é recorrente quando acontece em mais de 75% das tentativas e persistente se dura mais de 6 meses. O estímulo é adequado quando tem intensidade e duração suficientes. Em pesquisa realizada pelo Centro de Referência e Especialização em Sexologia (Cresex) do Hospital Pérola Byington, 18% das mulheres entrevistadas afirmaram ter dificuldade para sentir o orgasmo.
O bloqueio do orgasmo pode ocorrer devido ao uso de medicamentos, como antidepressivos ou abuso de álcool e outras drogas, e/ou se há presença de doenças vasculares, neuropáticas, reumatológicas, entre outras. Porém, maior parte tem origem psicológica: depressão, estresse, histórico de abuso sexual, insatisfação com o parceiro(a), traumas, educação sexual repressiva, conflitos religiosos, entre outros.
Por que o Transtorno do Orgasmo acontece?
Tradicionalmente o sexo heteronormativo foca na ejaculação/orgasmo masculino. Hoje a ideia do orgasmo feminino é mais buscada e valorizada, mas o sexo em si ainda não mudou muito. Sexo rápido e focado em penetração não é favorável ao prazer feminino. Falta também informação sobre fisiologia sexual feminina e sobre estimulação efetiva do corpo e mente da mulher.
As mulheres adultas de hoje, em geral, cresceram com uma educação sexual repressora: não se falava de sexualidade e prazer feminino abertamente e masturbação era considerada suja e errada. Tudo isso gera culpa, medo e vergonha:
- Vergonha do seu corpo, do seu desejo, do seu potencial orgástico
- Culpa de desejar, de não desejar, de transar e de não transar
- Medo do que vão pensar, de engravidar, de pegar doença, de ser violentada
Esses sentimentos tendem a bloquear o orgasmo. Se ele não acontece podem surgir os seguintes problemas:
- perda de interesse pela relação sexual
- frustração
- conflitos no relacionamento
- sobrecarga fisiológica pois o corpo vive todo o processo de excitação, mas não conclui o ciclo de descarga e relaxamento.
A Terapia Sexual leva a mulher a superar essas dificuldades e, finalmente, chegar ao ápice do prazer feminino.
Como a Terapia Sexual se desenvolve?
Afastados os fatores orgânicos, o tratamento mais efetivo para o Transtorno do Orgamo Feminino é a Terapia Sexual, que utiliza técnicas de educação sexual, autoconhecimento, autocuidado, reestruturação cognitiva, relaxamento geral, atenção plena, consciência corporal e masturbação dirigida.
No início, a terapia investiga o que aquela mulher carrega consigo. Isso serve para conhecer mais sobre o caso, mas também para que a pessoa revisite sua história, faça conexões, tenha insights e questione determinadas crenças e a priores. Ressignificar a própria sexualidade é possível. Atualizar percepções e crenças também. Julgamentos sociais e violências não precisam, nem devem definir a experiência sexual feminina.
Outro passo importante é o esclarecimento da paciente e do parceiro ou parceira sobre a compreensão realista do que é o orgasmo e como ele acontece. Segundo pesquisa com mais de 1000 mulheres publicada em 2017 no Journal of Sex & Marital Therapy, 2 em cada três mulheres precisam de estimulação direta do clitóris para chegar ao orgasmo e menos de 1 em cada 5 mulheres conseguem chegar ao orgasmo apenas com estimulação vaginal. Então, para a maioria das mulheres, é necessária a estimulação da parte externa do clitóris, de forma efetiva em relação ao local, tempo e tipo de estímulo.
Ao longo do processo, a mulher aprende a se entregar e superar inibições. Um bom orgasmo demanda uma situação de vulnerabilidade e muitas mulheres têm dificuldade com isso, devido ao contexto geral em que vivemos. Entretanto perder o controle, em um contexto seguro, vale a pena!
“Na terapia entendi que sou capaz de sentir o orgasmo. Para isso preciso me sentir segura e a vontade. Hoje sei quais estímulos me ajudam a chegar lá e consigo buscar esses estímulos durante o sexo” Relato de paciente ao receber alta após alcançar seus objetivos na terapia sexual:
As mulheres capazes de chegar ao orgasmo são aquelas que (1) expõem o que lhes agrada, (2) tomam a iniciativa, (3) concentram-se principalmente em si mesmas e (4) orientam a atividade para que possam obter satisfação. Essas atitudes demandam habilidades que podem ser desenvolvidas em terapia sexual.
E você? Já passou por alguma dificuldade de orgasmo? Escreve aqui nos comentários.